A diferença entre um esforço bem-intencionado e um fiasco objetivo é difícil de definir. Com o passar do mês de maio, a edição de 2018 do Fórum de Governança da Internet das Nações Unidas (IGF) ainda não anunciou um país ou mesmo uma região geral como anfitrião. Aparentemente, isso pode não parecer significativo, pois a reunião é rotineiramente realizada ao final do ano, deixando tempo suficiente para a comunidade planejar suas viagens durante o segundo semestre.

No entanto, o que é perverso é que a comunidade é a propulsora dos Workshops que compõem o cerne do evento. O conteúdo que acaba substanciando os vários dias do IGF se origina principalmente de propostas vindas da base; portanto, cabe a eles organizar sessões que atendam aos critérios do evento como a diversidade regional, setorial e de gênero e gerar uma discussão coerente que possa beneficiar os atendentes.

Somente no dia 2 de maio foi feita a convocação de propostas, com prazo final para o dia 27 do mesmo mês. Em 25 dias, espera-se que a comunidade global envolvida em Governança da Internet e assuntos associados apresente um conjunto diversificado, articulado e bem formatado de propostas para que o Multistakeholder Advisory Group (MAG) os integre a um programa coerente. Menos de um mês para atender a essas expectativas seria considerado difícil em uma situação normal, mas fica mais complicado.

O fracasso do IGF em gerar um modelo de participação significativo que permita aos membros da comunidade alavancar mudanças internacionalmente tem sido uma preocupação para os participantes e observadores do evento, que culminaram na falta de um anfitrião para o evento de 2017. A caro e gentrificada Genebra, sede da ONU, acabou sendo escolhida como substituta, e uma reunião mediana foi realizada sem resultados significativos.

O MAG eleito para o mandato de 2018 parece entender o problema. Eles entendem que o IGF precisa desesperadamente encontrar mais relevância, e é evidente que eles se esforçaram para conseguir isso solicitando uma abordagem mais focada dos Workshops depois de propor um "call for issues" que envolveu a comunidade. Isto é uma coisa boa.

O que não é bom é que tenha sido concedido à comunidade um tempo tão limitado para gerar propostas para Workshops sem o conhecimento do local do evento. Como é possível realizar um engajamento significativo na região do evento, se não se sabe onde será realizado? Como incluir atores locais de um local não identificado? Como encontrar temas que são particularmente significativos para uma região ou país e assim por diante?

A resposta é: não é possível. A tendência é apenas gerar mais do mesmo, contar com os frequentadores habituais que tem fácil acesso a financiamento internacional para integrar painéis, recorrer a temas que são considerados seguros e que não geram reação, mantendo o IGF tão inócuo quanto foi nos últimos anos. Esta não é a maneira de injetar uma energia que falta muito no ambicioso, mas decadente, projeto da ONU.

As peças se encaixarão e o evento acontecerá. As pessoas vão participar. Workshops serão realizados. Mas a idéia de que a base de uma revolução pode ser iniciada seguindo o mesmo modelo antigo e suas restrições com uma nova camada de tinta não é realista. A organização do IGF de 2018 está errada desde o início e salvá-lo será uma tarefa difícil para a comunidade e o MAG.

Só podemos esperar que painéis quentes com debates significativos e propostas reais para criar impacto sejam submetidos e aceitos para compensar esse vácuo, mas, como está e a julgar pela história, isso pode ser um sonho.